segunda-feira, 7 de março de 2016

Deu ruim





Mário de Andrade entoou um clássico, anos atrás, que exprime claramente a "história" do "BBB16".
A necessidade de verdades absoluta. O meu é o meu e pronto.

O diálogo é alvo de chacota. A não confrontação é sinônimo de fraqueza. A sinceridade é sinônimo de estapafúrdia grosseria. Concordar virou obrigação e discordar virou flagelo.

Os aplausos para a coerção e o histerismo transcende o espaço do jogo. Contamina o seio da Sociedade independente de lócus social. A barbárie nos cerca encapsulada em meras reações de ironia, preconceito, intransigência, facebooquismo e twittenria.

Realmente BBB é uma brincadeira. Mera brincadeira de adultos. Julga-se aqui personalidades, pessoas, atos e fatos de personagens. Por aproximação, julga-se torcidas, não pessoas. Nossos mundos são totalmente distintos desse simulacro virtual.

E a tônica de cada ano é diferente. Conteúdo e contexto. Como odiar Dr. Gê e Alberto cowboy e amar Ronan? Como apaixonar-se por Cézar e Dedessa e ter ogeriza por Adélia? Como amar Grazi e não se apaixonar por Munik? Como cegar pelo castelo André e Fernanda e enojar-se com Matheus e Cacau? Como trucidar Talita e Kamilla e amar Ana Paula? Como odiar mitoce e gostar de Mitchz? 

Ah! Claro! Não podemos comparar participantes. Realmente, não. O que podemos é entender que não vou odiar a PRIN porque ela é da seita. E ela não vai me odiar (pelo menos até antes desse post) porque defendo uns trastes. Sejamos lúdicos.

Quero pedir desculpas aos que magoei nesses últimos 3 anos e ao que magoarei nos próximos 3, 13 ou 30 anos. Amizades são mais fortes que ideologias políticas, que religião, que paixões futebolísticas. Amizades são mais fortes que pactos de sangue. Amizades são mais fortes do que 30, 60 ou 90 dias enclausurados em convivência forçada. Amizades perpetuam-se em laços, em gestos, ou na simples ausência carinhosa.

Passarei a minha vida lutando pelo direito das pessoas de expressarem suas opiniões mesmo contrárias as minhas. Principalmente contrárias as minhas.

Entendo que teremos tempos nefastos nas próximas horas e a única coisa que eu peço é: que a semente da beligerância esteja limitada ao enfrentamento retórico e a argumentação. O ódio e o veneno da vingança cobram seu preço.

Tenham dias iluminados.


ALERQUINAÇÃO

Eu me visto de Arlequim nesse mundo cão.
Não procuro em meu ego a ostentação
Se na Terra tem crianças lhes dou o meu pão
Mas não pense que não puno sua indecisão
Quando pensas no colóquio de televisão
É apenas um falsete da escravidão
Mas não tenho euforia por sofreguidão
No trabalho, na labuta, tem que ter tesão
Se a história nunca muda tem coalisão
Os espasmos da loucura da ingratidão
Na piada: uma cura ou a rescisão
E no ódio uma procura pela permissão
Não me torno um mero asno por uma canção
Valorizo a certeza de uma intenção
Se preciso vou a rua pelo coração
Não tem toga que assuste a percepção
Nessa vida o meu ouro é a discrição
Na surdina, nas alcovas tem recepção
Na esquina bato o ponto pela ovação
No presépio me ajoelho nesta oração
Casa, carro, bicicleta tá na estação
Esperando o novo broto para pegação
E na rima um bandido é a relação
Na autoria dessas frases tem a revisão
Uma pitada de mistério na repartição
Leva o povo a repensar sua posição
Na escola ensinaram a decepção
Tenho prazo para entrega da declaração
Faço jogo de palavras com exatidão
Para troçar sua cabeça da rebelião
Ponho fogo no cabelo e na ilação
Ao contar um fato novo de escrotidão
Vou levando a minha banda para armação
E buscar um carinhoso gole de emoção
Na navalha equilibrando o fio da razão
Entendendo que o viço é satisfação
De encontrar os meus amigos na arrebentação
E nadar sem compromisso para o furacão
E fugindo do hospício dessa solidão
De quem vive no ocaso sem a proteção
Vou cantando e caminhando na indicação
Da justiça e da verdade da procuração
A retórica é pergunta e afirmação
Na certeza fica a dúvida da afetação
Do fanático destempero da alienação
O combate na espreita pede atenção
E aguardo o chicote da indignação
Nesse palco a brincar de Pantaleão
O palhaço leva o riso sem empolgação



THE GAME MUST GO ON